sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Um alerta de Marina Kalashnikova ao ocidente

Voz da Rússia, parte 1

Por J. R. Nyquist

Conheçam Marina Kalashnikova: uma historiadora Moscovita, pesquisadora e jornalista. Em agosto passado, ela criticou "especialistas" estrangeiros que sugeriram que um conflito com Moscou não iria acontecer porque a elite Russa também é intimamente ligada com o Ocidente. Segundo Kalashnikova, "O Ocidente não deseja acordar do seu sonho de pensamento positivo, mesmo quando Moscou volta a ... reanimar o culto à personalidade de Stalin e também a ideologia da Cheka [isto é, a KGB]."
Temo que Marina Kalashnikova esteja certa. O Ocidente está sonhando, e o Ocidente sofrerá as conseqüências. Se o Kremlin gosta de Stalin, então haverá problemas. Se os funcionários da KGB criaram uma forma sofisticada de ditadura na Rússia, eles têm feito isso por uma razão. Nós devemos lembrar aos nossos políticos de memórias curtas que Stalin e sua polícia secreta não estavam liderando uma Escola Dominical. Além disso, o recente rastro de sangue e radiação que aponta para o Kremlin é como um dedo indicando o maior perigo do nosso tempo – apagado da tagarelice midiática do momento. (Um agente da KGB que se aposentou recentemente disse que "ninguém é mais fácil de comprar do que um jornalista ocidental.")
A Rússia construiu uma aliança de ditadores, o que Kalashnikova chama de uma "aliança das forças e regimes mais desenfreados." Extremistas de todos os tipos servem ao objetivo de destruir a paz, prejudicar as economias ocidentais e preparar o palco para uma revolução global pela qual o equilíbrio de poder mude dos Estados Unidos e do Ocidente para o Kremlin e os seus aliados chineses. "Entre as idéias que animam toda a equipe dos analistas no Kremlin, há a idéia de difusão", diz Kalashnikova, "Não é que o Kremlin deve esforçar-se para ter uma expansão territorial e uma disseminação de seu modelo [político]. O aspecto fundamental é o poder e o fulcro de um contexto estratégico global. Nesse caso, mesmo que os americanos sejam influentes nos países pós-soviéticos, Moscou continua no comando. O Estado-Maior [russo], portanto, tem expandido com êxito a posição de Moscou para além e acima da posição da antiga União Soviética na África e na América Latina. O que prevalece, segundo ela, é “a afirmação e a determinação de Moscou, e sem medo de uma reação do Ocidente.”
Em outras palavras, o Ocidente já foi suplantado. A KGB e o Estado-Maior russo já nos sondaram, e eles estão rindo de nós. Nossos líderes não percebem a sofisticação do seu inimigo. Eles não podem ver nem entender o que está acontecendo. Eles piscam, eles recuam, e continuam usando conceitos fornecidos a eles por agentes de influência soviéticos há muito tempo. Como nação, nós estamos confusos e desorientados, acreditando que o mundo está em dívida com o poder monetário do Ocidente – e, por conseguinte, a paz pode ser comprada.
"O Kremlin ativou uma rede de extremistas no Terceiro Mundo", escreveu Kalashnikova. "[Ao mesmo tempo] a Rússia conseguiu livrar-se de quase todas as convenções internacionais que restringem a expansão de seu poderio militar." Nesta situação, o único obstáculo para o poder russo é o poder americano. Mesmo assim, o presidente norte-americano se prepara para abdicar desse poder com uma série de acordos de controle de armas que vão deixar os Estados Unidos mais vulneráveis a um primeiro ataque. Colocando isso no contexto, as armas nucleares são armas superiores, tanto que a superioridade ocidental em armas convencionais é, portanto, sem sentido. Quem ganha supremacia nuclear estratégica irá governar o mundo, e as forças russas de foguetes estratégicos estão no lugar, prontas para o lançamento, enquanto as forças nucleares americanas estão apodrecendo por negligência.
A historiadora russa considera que o Ocidente depende da ganância da elite russa para manter o Kremlin na linha. Mas esse é um conceito tolo. Mao Zedong disse que o poder político "emana do cano de uma arma." Portanto, a lógica do Kremlin é dura: Deixe o Ocidente manter sua inútil moeda. Moscou terá armas, e, no final, Moscou e seus aliados vão controlar tudo. Os liberais podem acreditar que os protestos e apelos à humanidade são o trunfo final. Os financiadores podem acreditar que o dinheiro faz o mundo girar. Deixe-os tentar parar uma salva de mísseis balísticos intercontinentais com o sentimento liberal e dinheiro. Até onde valem as leis da física, os seus instrumentos preferidos não podem parar um único míssil.
Segundo Kalashnikova, "Está claro que o regime [Kremlin] não tem limites e irão cometer qualquer crime, quebrar qualquer regra, superar qualquer referência a fim de consolidar seu poder ilegítimo..." Mesmo o antigo chefe da KGB, Vladimir Kryuchkov, ficou chocado: "Putin e os outros têm que responder pelo que eles estão fazendo com o país hoje", disse ele. Mas o Ocidente dorme. O Ocidente não quer ouvir sobre o perigo que se levanta no Oriente – desde o Kremlin e de seus aliados chineses. Como Kalashnikova aponta, as advertências de observadores como o russo Viktor Suvorov e Vladimir Bukovsky foram quase totalmente ignoradas. O chauvinismo ocidental está profundamente arraigado, e o homem ocidental tem a sua superioridade militar e econômica como garantia. Ele ri da idéia de que "os russos estão chegando." Mas a piada é sobre a América. Vantagem psicológica do Kremlin é vital e imediata, e se estende ao domínio político. Isso é significativo porque o resultado de cada guerra é pré-determinado pelo processo político que levou à guerra.
Kalashnikova lamenta que Suvorov e Bukovsky permaneçam tão desconhecidos, "e ainda são odiados pelo establishment ocidental ... [que] evita verdades incômodas sobre o mundo e sobre si mesmos, especialmente quando a verdade vem de críticos russos." Será que os americanos têm senso? Eles são pessoas sérias? Não, disse Suvorov mais de duas décadas atrás. Não, diz hoje Kalashnikova. Os generais russos estão se preparando. Eles estão consolidando a sua influência, porque a próxima guerra exige.
"A idéia da OTAN de dissuasão não significa absolutamente nada para os generais russos", escreveu Kalashnikova. "Ao contrário dos seus homólogos ocidentais, eles não têm medo das grandes perdas militares e civis. Isso era verdade já na época de Stalin. Perdas não afetam a popularidade dos governantes Kremlin...” O filósofo Nietzsche escreveu certa vez que sacrificar pessoas para um Estado ou para uma idéia faz com que o Estado ou a idéia sejam os mais preciosos de todos para aqueles que fizeram o sacrifício. Tal é a psicologia humana, ontem, hoje e amanhã.
"O equilíbrio estratégico", alertou Kalashnikova, "não funciona e nunca funcionou." Estando do lado de fora da lógica da dissuasão nuclear, os líderes do Kremlin estão modernizando seus bunkers nucleares. Eles estão preparados para sobreviver. "Os militares russos de hoje não são mais fracos do que os da URSS", diz ela, "e em algumas áreas ultrapassam os militares soviéticos." – Isto vindo de uma escritora que entrevistou pessoalmente generais russos, chefes de espionagem e estadistas. Ela continua a dizer que depois do 11/9 terroristas aliados da Rússia podem realmente ser usados para desempenhar um papel fundamental na equação estratégica. E então ela providencialmente cita um funcionário da OTAN que falou sobre o papel da Al Qaeda e de Bin Laden, como se segue: "Ele [o ataque de 11/9] está além de suas capacidades intelectuais." Este tipo de compreensão é conhecida por provocar "reações de polônio", como no caso do ex-tenente-coronel da FSB Alexander Litvinenko – que declarou publicamente que Vladimir Putin foi o mestre por trás do terrorismo da Al Qaeda.
E aqui é onde a coisa se complica. Quando Marina Kalashnikova apresentou sua análise aos leitores russos e ucranianos em 26 de agosto de 2008, ela irritou o regime e tornou-se um alvo da polícia secreta russa. Sua residência em Moscou foi arrombada. Papéis privados foram roubados. Ameaças foram feitas. E, por último, mas não menos importante, ela foi violentamente presa em uma clínica psiquiátrica por 35 dias. "Estou completamente saudável", disse-me Kalashnikova durante uma entrevista por telefone no domingo. "Foi absolutamente político ... não há nada de clínico."
E que desculpa eles deram para quebrar a fechadura e pegá-la? "disseram que fui agressiva", explicou ela, "mesmo estando eu atrás da porta da minha casa." O que ela tinha feito, naturalmente, era revelar as intenções hostis do governo russo em relação aos Estados Unidos. "Só ontem", explicou ela, "Eu recebi ameaças de que eles iriam me levar de volta à clínica, porque eu não cumpri o acordo de não interferir nos assuntos políticos aqui. Estou proibida de fazer jornalismo, política, entrevistas e tudo mais. Então eu só posso lidar com a vida cotidiana. Meus esforços, e minha comunicação ativa com o Ocidente sobre esta prisão psiquiátrica [é proibida]. Eu me sinto completamente insegura aqui. Não é piada. Não é exagero. A realidade é ainda mais terrível e criminosa. Tento não assustar as pessoas. O povo americano está muito confortável. Eu subestimei e descrevi mal a situação. É muito perigoso. A situação precisa urgentemente do discernimento deles."
E sobre qual situação ela está falando?
"Eu acho que a Rússia sempre teve a América como o inimigo", Kalashnikova me disse, "e continua da mesma forma. Eu acho que todos os preparativos feitos pela Rússia são preparativos militares, são para a guerra. Nestes últimos dias eu falei três vezes com ... um ex-político, funcionário do partido e brilhante diplomata ... e ele confirmou que eles esperam a guerra ".
Espero que Marina Kalashnikova esteja a salvo, e que os americanos irão apreciar a sua coragem, dar atenção a seus alertas, e evitar a eclosão de uma guerra com zelo e vigilância. Marina me deu permissão para contar sua história e relatar suas palavras para aqueles que estão dormindo no Ocidente. Ela precisa da nossa ajuda, e ela merece.

Fonte: http://www.financialsense.com/stormwatch/geo/pastanalysis/2009/0717.html

Tradução: Rafael Resende Stival, do blog Salmo 12

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