segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Estado da Nação: Eu Temo

Este texto é mais um pedido de tradução feito pelos editores do Mídia Sem Máscara. É escrito por um norte-americano especialista em leis. O autor descreve a alarmante situação em que está o país que é bastião da democracia e dos princípios orientadores e frutos deste regime. Parece que o tema não se encaixa nos interesses do blog, mas leiam e descubram.

Postado em 27 de janeiro de 2010

Por John W. Whitehead

Presidente do o Instituto RutherFord

"Ao olhar para a América, hoje, eu não tenho medo de dizer que estou com medo." – Bertram Gross, Friendly Fas­cism: The New Face of Power in America.

Nos Estados Unidos, avanços trágicos vêm de muito tempo, em parte acelerados por "we, the people­­­[1]" – cidadãos que estão dormindo ao volante por muito tempo. E enquanto ainda existe algo que nos possa acordar, ainda assim não conseguimos ouvir o alerta.

Apenas considere o estado da nossa nação:

Estamos encerrados naquilo que alguns estão chamando de campo de concentração eletrônica. O governo continua a acumular dados de mais e mais norte-americanos. Em todos os lugares que vamos, somos vistos: nos bancos, no supermercado, no shopping, atravessando a rua. Esta perda de privacidade é sintomática da crescente fiscalização levada a efeito nos americanos comuns. Essa vigilância gradualmente envenena a alma de uma nação, pois, de um estado de inocência presumida até que se prove o contrário, fomos transformados para outro em que todos são suspeitos e presumidamente culpados. Assim, a pergunta que deve ser feita é: pode a liberdade nos Estados Unidos florescer em uma época em que os movimentos físicos, compras individuais, conversas e reuniões de todos os cidadãos estão sob constante vigilância por companhias privadas e agências governamentais?

Estamos nos transformando em um estado policial. Tentáculos governamentais agora invadem praticamente todos os aspectos das nossas vidas, com os agentes do governo ouvindo as nossas chamadas telefônicas e bisbilhotando nossos e-mails. A tecnologia, que se desenvolveu em um ritmo rápido, oferece àqueles que estão no poder as ferramentas mais invasivas e impressionantes que já existiram. Os centros de fusão – agências de coleta de dados espalhadas pelo país, amparadas pela National Secu­rity Agency[2] – monitoram constantemente as nossas comunicações, tudo desde a nossa atividade na Internet a pesquisas na web para mensagens de texto, telefonemas e e-mails. Estes dados alimentam agências governamentais, que estão agora interligadas – a CIA ao FBI e o FBI à polícia local – uma relação que vai fazer o processo de imposição da lei marcial algo bem mais fácil. Poderíamos muito bem pensar que estaríamos a salvo de um ataque terrorista ao ver as forças armadas nas ruas – e o povo americano certamente não ofereceria muita resistência. De acordo com um estudo recente, uma percentagem cada vez maior de americanos está disposta a sacrificar suas liberdades civis para se sentir mais segura, na seqüência do mal sucedido ataque à bomba “da virilha[3]”, no dia de Natal.

Nós somos flagelados por uma economia cambaleante e um déficit financeiro monstruoso que ameaça nos levar à falência. Nossa dívida nacional é de mais de U$ 12 trilhões (que se traduz em mais de U$ 110 mil por contribuinte), e deverá quase dobrar para US $ 20 trilhões em 2015. A taxa de desemprego está superior a 10% e crescendo, com mais de 15 milhões de americanos sem trabalho e outros muitos obrigados a subsistir com empregos de baixa remuneração ou de tempo parcial. O número de famílias norte americanas que estão na iminência de perder suas casas subiu para quase 15% apenas no primeiro semestre do ano passado. O número de crianças vivendo na pobreza está a aumentar (18% em 2007). Como a história ilustra, regimes autoritários assumem mais e mais poder em tempos de desordem financeira.

Nossos representantes na Casa Branca e no Congresso têm pouca semelhança com aqueles que foram eleitos para representar. Muitos dos nossos políticos vivem como reis. Choferados em suas limusines, voando em jatos particulares e comendo refeições gourmet – tudo pago pelo contribuinte americano –, eles estão muito distantes daqueles que representam. Além do mais, eles continuam a gastar o dinheiro que não temos em imundos pacotes de estímulos enquanto alimentam um enorme déficit e deixam que os contribuintes americanos paguem a conta. E enquanto os nossos representantes devem estar num show de disputas partidárias, a elite de Washington - isto é, o presidente e o Congresso - avança com tudo o que deseja, dando pouca atenção à vontade do povo.

Estamos envolvidos em guerras globais contra inimigos que parecem atacar do nada. Nossas forças armadas são levadas ao seu limite, pois estão espalhadas ao redor do globo e sob fogo constante. A quantidade de dinheiro gasto com as guerras no Afeganistão e no Iraque está próxima de U$ 1 trilhão e é estimado que alcance por volta de 3 trilhões de dólares antes que tudo termine. Isso não leva em conta os países devastados que ocupamos, os milhares de civis inocentes mortos (incluindo mulheres e crianças) ou os milhares de soldados americanos que foram mortos ou feridos gravemente ou que estão cometendo suicídio a uma taxa alarmante. Nem leva em conta as famílias dos 1,8 milhões de americanos que serviram ou estão servindo em missões no Iraque e no Afeganistão.

O lugar dos EUA no mundo também está passando por uma mudança drástica, com a China programada para emergir como a maior economia da próxima década. Dada a dimensão do quanto estamos endividados para com a China, a sua influência sobre a forma como o nosso governo realiza seus negócios, bem como sobre a forma como ele lida com os seus cidadãos, não pode ser desconsiderada. Em julho de 2009, a China se apropriou de 800,5 bilhões de dólares da nossa dívida – que é 45% do total da nossa dívida (estrangeira) – tornando-a a maior detentora estrangeira da dívida externa norte-americana. Não se admira, então, que a administração Obama, prostrou-se ante a China, hesitando desafiá-los abertamente sobre questões cruciais como os direitos humanos. O mais recente exemplo disso pode ser visto na relutância inicial da administração de Obama em enfrentar o governo chinês quando dos seus ataques cibernéticos relatados no Google e em outras empresas de tecnologia americanas.

Por haver dissolução das fronteiras nacionais em face da ampliação da globalização, aumenta a probabilidade de que a nossa Constituição, que é a lei suprema da América, seja subvertida em favor de leis internacionais. Isto significa que a nossa Constituição estará sob ataque crescente.

A mídia corporativa, cada vez mais na qualidade de porta-voz da propaganda governamental, já não faz sua função principal de cães de guarda, protegendo-nos contra as invasões aos nossos direitos. Em vez disso, a maior parte da grande mídia só se dedica às notícias idiotas e sobre celebridades, o que é um mau presságio para o nosso país. Não importa se você está falando sobre as notícias dos tablóides, sobre as notícias de entretenimento, ou sobre telejornais legítimos, nem poucas diferenças entre eles há mais. Infelizmente, a maioria dos americanos se ateve à idéia de que tudo o que a mídia nos relata é importante e relevante. Nesse processo, os americanos perderam grande parte da capacidade de fazer perguntas e pensar analiticamente. Com efeito, a maioria dos cidadãos tem pouco ou nenhum conhecimento sobre os seus direitos ou mesmo de como o seu governo trabalha. Por exemplo, uma pesquisa nacional constatou que menos de um por cento dos adultos poderia citar as cinco liberdades protegidas pela Primeira Emenda Constitucional.

Por fim, eu jamais vi um país mais espiritualmente abatido do que os Estados Unidos. Perdemos o nosso compasso moral. Um número crescente de nossos jovens já não vê sentido ou propósito na vida. E nós já perdemos o senso de certo e errado ou de uma maneira de responsabilizar o governo. Esquecemos que a premissa essencial do regime governamental americano, conforme estabelecido na Declaração de Independência, é que se o governo não prestar contas ao povo, então ele deve certamente ser responsável perante o “Criador.”

Mas e se o governo não é responsável perante o povo nem perante o Criador?

Como escreve Thomas Jefferson na Declaração, é então direito do "povo de alterá-lo ou aboli-lo" e formar um novo governo.

Advogado constitucional e autor, John W. Whitehead é fundador e presidente do Instituto Rutherford. Ele pode ser contatado pelo johnw@rutherford.org. As informações sobre o instituto estão disponíveis no www.rutherford.org.



[1] “Nós, o povo...” são as primeiras palavras da constituição americana.

[2] Agência Nacional de Segurança.

[3] Referência ao atentado frustrado ao vôo 253, no natal de 2009.

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